Qual a relação entre experiência e arte contemporânea?

CONTEMPORANEIDADE

Para começo de conversa, convém definirmos o que é, de fato, ser contemporâneo. E se engana você se acredita que ser contemporâneo é viver todos os aspectos deste tempo, sem conseguir enxergar o que realmente acontece agora.

Uma das principais características da contemporaneidade é estar desiludido e inativo ao mesmo tempo com o que se vive no presente. E essa paralisia se destaca em todas as esferas: política, cultural, ética, social, etc., numa ilusão de que se cria alguma coisa, quando tão somente estamos a reproduzir os mesmos discursos.

Como pensamos a nossa própria vida e a do planeta? Através das experiências dos outros e de ideologias.

Por isso, hoje vivemos desacreditados, em meio à corrupção, à fraqueza da moral, ao que é perverso, ao desconsiderado, enfim, carentes e perdidos na junção do público com o privado que já são inseparáveis.

Será, então, que por trás do “penso, logo existo” há algo mais? Alguma possibilidade de renovação?

SIM! PELA ARTE.

Pois sendo a arte representativa da realidade, ela tem pela frente um desafio ainda maior, o de buscar uma remomoração daquilo que nos escapa no atual momento, mantendo a imprevisibilidade do presente, ao privilegiar, assim, um movimento contraditório: recompor-se e desobstruir-se.

É preciso, então, superar a dimensão simbólica com que a arte tem se comunicado, baseando-se na composição de fragmentos do real para montar sua alegoria, extinguindo a expressão de totalidade.

RESGATE DA EXPERIÊNCIA NA ARTE

É comum pensarmos em experiência como algo relativo a realização de coisas, experimentos, enfrentamento de alguma prova, aquisição de conhecimento por meio dos sentidos, e quando embebidos pelo universo artístico, seja através de um filme ou espetáculo a que assistimos, seja durante a própria produção de arte a que nos dedicamos, existe sempre uma articulação entre estética e política, que se reflete ao mesmo tempo na necessidade de compartilhar um ponto comum e no talho de algo que nos é privado, particular, íntimo.

Mas já é notada em algumas obras artísticas contemporâneas a apresentação de uma fusão entre o imaginário e o real, dando condição a um caráter aberto diante da experiência do público com o objeto artístico. O que é ótimo, porque nada impõe, apenas sugere, e nisso está a essência da experiência.

Como exemplo, as produções de Lygia Clark, que convidam o espectador a experimentar sensações, sugestões, novas conexões, na medida em que significados diversos são ofertados e recebidos.

A experiência é sempre singular, e quando remetida ao universal, torna-se apenas uma técnica.

Esse é o espírito do realismo, impulsionando uma atitude, sem ser superficial ou mero gesto imitativo, mas uma resistência ao que converte a arte como um produto das massas ou do mercado, legitimando-se num mundo coisificado.

A experiência é senão um lugar transitório, principalmente ao estar acoplada à arte, onde há um direcionamento em permanente mudança, próprio de um passado, de um presente e de um porvir, este último, ainda em processo de (des)construção, de rastrear a sua identidade.

Posto isso, uma das ferramentas com que artistas com as melhores intenções precisam trabalhar é a metaironia=uma espécie de junção entre opostos, onde aquilo que é apresentado não se limita a um espaço de tempo e nem estabelece com o elemento representativo um sentido estático, mas o coloca em fluxo numa contemplação entre oposições sem resolver tal questão.

fonte

O poema mostra-nos a oposição entre o desejo e o desinteresse em forma de questionamento, é o instantâneo que cessa continuamente. Uma desorientação.

Contingência e dispersão? Então é contemporâneo!

O instante do poema é o cruzamento entre o absoluto e o relativo.

Até aqui, percebemos, com base nas amostras artísticas, como é necessária uma intervenção da arte para nos situar diante da realidade que nos cerca, cujo tempo de agora é o nosso ponto de origem, a nos reconciliar com aquilo que vivemos, sem que nos falte a consciência do que pareça uma mudança, mas simplesmente seja uma variação de um modelo anterior, reproduzido e com finalidade opressora.

Que a arte nos percorra como em um acaso, que emudece as regras, ecoado em múltiplas possibilidades, revertendo o tempo.

Assim, deixaremos de ser uma sociedade descartável para nos transformar num coletivo que sabe manter sua individualidade sem se perder, e, ainda, transmitir algum tipo de sabedoria. 😉

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